universidade lusófona

“Impulso Arquivial”

Participantes:

– José Bragança de Miranda: «Anarquivo» – Victor del Rio: «O arquivo: o subjectivo do meio» – José Gomes Pinto: «Arquivo: uma teologia democratizada e tecnificada»

Quarta-feira | 18 de Janeiro | Auditório do Museu Colecção Berardo | 18 h Entrada Livre *José Bragança de Miranda: «Anarquivo» Mallarmé num denso texto fala de uma “tempestade na biblioteca”. A situação é clara: milhares de capas e títulos que se ladeiam, se atropelam  deslizam uns sobe os outros,  e deslizam, provocando um choque. Entra em crise a velha Lei do mundo, esse arquivo perfeito de Deus, ao mesmo tempo que se constitui a nova lei do arquivo moderno, positiva, administradora, gestora. Potente, mas sem força, enquanto que a antiga tinha força mas era ou foi impotente, historicamente. O que se revela na época actual é uma nova capacidade anarquivística, um vazio que se joga nos silêncios e limites dos arquivo. Não se apercebe esse silêncio sem  uma atenção à tempestade que se desencadeia no seu espaço atmosférico. E, neste, sobrevêm as condições para outras formas da vida, enunciadas alusivamente na biblioteca fantástica de Foucault ou de Borges. *Victor del Rio: «O arquivo: o subjectivo do meio» Sobre a focagem de uma sobre-exploração do conceito de arquivo na reflexão filosófica contemporânea, que afecta as disciplinas criativas desde a arte contemporânea à comunicação audiovisual, faremos o enfoque, nesta apresentação, a partir de duas dimensões complementares. Por um lado, desde a perspectiva da devoração de uns meios sobre outros, sob aquilo que se denominou “condição pós-media”, uma etiqueta ainda pendente de definição. Por outro lado, desde a experiência subjectiva da acção arquivadora, como procura destinada ao fracasso do “assento registante” para os fragmentos biográficos. O objecto paradoxal desta relação será a proposta para o debate a realizar neste encontro. *José Gomes Pinto: «Arquivo: uma teologia democratizada e tecnificada» Há uma nova ordem instalada na contemporaneidade e que se prende com um problema temporal, onde o tempo cronológico não se separa do tempo histórico, onde as res gestae são concomitantes às res narratae, onde o dizer –que descreve e guarda− se não se distingue do acontecimento, do fazer-se no presente, real. O arquivo, enquanto dispositivo e enquanto princípio, dita assim uma forma absoluta e aparece como um absoluto técnico mas, e ao mesmo tempo, com um acesso hoje generalizado, aparentemente democratizante. A constituição do arquivo, por outro lado, está sempre dependente da dispositivos técnicos e estes são sempre os responsáveis pela constituição da História e todos os media da história são media de transmissão, difusão e armazenagem. Assim sendo, a constituição do arquivo hoje parece estar a assumir um papel absoluto: não permite quaisquer relações com o seu exterior. Só dentro dele as relações são possíveis e todas as relações são estabelecidas nele. Esse carácter absoluto aparece como uma nova forma de teologia que, como afirma Boris Groys, surge agora como democratizada e tecnificada. Será sobre o carácter absoluto do arquivo que lançaremos os problemas para a discussão.